Curioso como certas palavras são constantemente incorporadas ao vocabulário político brasileiro, que lhes dá um sentido todo próprio, como que a criar uma espécie de código secreto a que a opinião pública em geral não tem acesso, havendo aí, pois, uma estratégia de comunicação.

É o que está a suceder com o verbo “desidratar” que, segundo os dicionários, tem o sentido de retirar ou perder a água de um tecido ou de um órgão, ou ainda o de fazer evaporar a água em certos frutos e legumes para melhor conservá-los. Mas para o mundo da política brasileira o sentido é todo outro.

Noticiam os jornais, com efeito, que o projeto de emenda constitucional que busca encontrar recursos financeiros e os dotar para planos sociais a serem executados no próximo ano, que esse projeto, pois, está a ser “desidratado”, no  sentido de que há propostas de parlamentares que, a vingarem, modificariam o projeto em sua  essência ou em parte dela.

Em lugar, pois, de dizer-se em linguagem comum e de maneira bastante simples que o projeto está a ser modificado, utiliza-se, sem qualquer razão, o verbo “desidratar”, dando-lhe um sentido  que em nada se relaciona com o que os bons dicionários abonam acerca desse verbo.

Mas o que é pior é que a imprensa colabora com essa indevida estratégia de comunicação, quando em lugar de informar com clareza seu público de que o projeto está a ser modificado ou alterado, noticia que o projeto está sendo “desidratado”, fazendo com que o leitor comum não dê atenção à matéria, por não a compreender.

Pesquisas recentes na área de comunicação demonstram que a grande maioria dos leitores de jornais, e mesmo de noticiários publicados em redes sociais, dá atenção  apenas às manchetes, e isso quando o vocabulário utilizado pelo jornalista é de fácil intelecção pelo leitor comum.

O que comprova o fato de que há estratégias de comunicação cujo objetivo é intencionalmente dificultar a comunicação. Lembremo-nos do filósofo da comunicação, Marshal McLuhan, que  cunhou a expressão “o meio é a mensagem”, para demonstrar  que cada mensagem precisa ser exposta em seu meio de comunicação correto, sem o que seu objetivo – o de comunicar – perde sua eficácia. Mas não é apenas o meio que deve ser adequado: a mensagem também o deve ser.

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here