Poucos sabem que o genial EÇA DE QUEIROZ estivera algo próximo de se tornar ministro de Portugal no Brasil. A ideia partiu de um brasileiro, EDUARDO PRADO, grande amigo de EÇA, que, entusiasmado pela ideia que ele mesmo, PRADO, tivera, tratou de a divulgar, iniciando uma campanha para que isso ocorresse. Infelizmente, a ideia não vingou, e EÇA, com sua fina ironia, recorda do episódio em uma carta escrita ao Conde D’Arnoso em 10 de julho de 1898:
“Tu já ouviste alguma coisa mais estupenda? A ideia da nomeação nem a discuto. Ela não é legalmente fazível. Para mim, pessoalmente, teria por todos os lados todas as desvantagens. E essa legação, sempre reservada a políticos, creio que já está neste momento dada um Político. O que é deliciosamente inaudito é o repente do Prado que, sem me consultar, sem gritar legação vai! se atira a esta campanha, e te escreve, e telegrafa, e barafusta, e teria posto em alvoroço Lisboa e o Rio, o velho e o novo Mundo, se eu o não agarro e o detenho, com um esforço de que me ficaram os braços derreados. Safa, que Prado! E ainda por cima tive que mandar um telegrama que me custou mais de dois francos. Pois por quanto me ficou essa Legação”.
Àquela altura, julho de 1898, EÇA era o cônsul português em Paris e tinha no Brasil uma verdadeira legião de leitores de suas crônicas publicadas na Gazeta de Notícias, jornal do Rio de Janeiro, além de aqui ser representado por MACHADO DE ASSIS quanto aos direitos autorais. Seus livros já eram aqui famosos, e seu estilo, copiadíssimo.
O que teria ocorrido se a ideia de EDUARDO PRADO vingasse? Teríamos tido entre nós um exímio cronista, que, vivendo de perto a realidade do Brasil, teria escrito divertidíssimos textos, como o fizera em suas “Farpas”, escritas em conjunto com RAMALHO ORTIGÃO, e poderia, quem sabe, escrever um livro nos moldes em que fizera com o Padre Amaro, quando em um sabático período, atuando como jornalista político em uma pequena cidade de Portugal, ali tomara conhecimento das relações de um padre que tinha o pecado de gostar mais de mulheres que de religião.
Sem EÇA, perdemos nós, perdeu a Literatura. Por sorte, EÇA perdeu menos, pois que perdeu apenas os dois francos gastos com a correspondência.