No mundo inteiro, os institutos de pesquisas estão às voltas com a busca de respostas para a acentuada diferença entre os números que as pesquisas captam entre os eleitores entrevistados e o real resultado das eleições. Esse fenômeno ocorreu entre nós no primeiro turno das eleições presidenciais. Alguns especialistas, arriscando respostas, afirmam que é mais difícil captar o voto de quem é ou  pensa ser de “direita”, e que por isso as pesquisas não conseguem mais chegar a resultados próximos da realidade.

Mas por detrás desse fenômeno há algo muito mais profundo e que se revela como uma característica da sociedade pós-moderna, uma sociedade que, como dizia ZYGMUNT BAUMAN, é uma sociedade líquida, em que há uma sociedade de indivíduos:

A individualização chegou para ficar; toda elaboração sobre os meios de enfrentar seu impacto sobre  o modo como levamos nossas vidas deve partir do reconhecimento desse fato. A individualização traz para um número sempre crescente de pessoas uma liberdade sem precedentes de experimentar – mas (timeo danaos et dona ferentes …) traz junto a tarefa também sem precedentes de enfrentar as consequências. O abismo que se abre entre o direito à auto-afirmação e a capacidade de controlar as situações sociais que podem tornar essa auto-afirmação algo factível ou irrealista parece ser a principal contradição da modernidade fluída – contradição que, por tentativa e erro, reflexão e crítica e experiência corajosa, precisamos a aprender a manejar coletivamente”.

Os indivíduos não pensam e não agem mais como pensavam e agiam enquanto cidadãos, e isso fez com o que o eixo de poder se modificasse. Diz BAUMAN: “Quanto ao poder, ele navega para longe da rua e do mercado, das assembleias e dos parlamentos, dos governos locais e nacionais, para além dos alcance do controle dos cidadãos, para a extraterritorialidade das redes eletrônicas. Os princípios estratégicos favoritos dos poderes existentes hoje em dia são fuga, evitação e descompromisso, e sua condição individual é a invisibilidade. Tentativa de prever seus movimentos e as consequências não previstas de seus movimentos (sem falar dos esforços para deter ou impedir os mais indesejáveis entre eles) têm uma eficácia prática semelhante à da “Liga para Impedir Mudanças Meteorológicas”. (“Modernidade Líquida”).

É o que explica a razão pela qual os interesses e preocupações dos indivíduos enquanto tais encontram nas redes sociais, e apenas nelas,  seu meio de legitimação, e a tentativa de prever o movimento desse interesses e preocupações por meio das tradicionais pesquisas de opinião será cada vez mais ineficaz.

Ou seja, os institutos de pesquisas estão pesquisando no lugar errado …

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