Há entre os juristas a certeza inabalável que  o Poder somente funciona a partir do Direito. Os filósofos não têm essa mesma certeza, e dentre eles está FOUCAULT, que em “A Vontade de Saber”, cuida observar de modo algo indigesto aos juristas que é sob a condição de mascarar uma parte importante de si mesmo que o Poder consegue ser tolerável na sociedade, e é para mascarar essa parte, digamos, menos digna,  que o Poder utiliza-se do Direito, de sua linguagem e de seus códigos de mensagem.

E como o Poder faz isso? Diz FOUCAULT que o Poder mantém consigo o segredo do que lhe é essencial como Poder, sem o revelar a ninguém. E o Direito colabora em manter a sete chaves esse segredo por meio de uma linguagem toda própria, fazendo parecer ao povo que há um só poder e que o Direito caracteriza-se exatamente pela unidade desse Poder.

Donde conclui FOUCAULT que o Poder não funciona a partir do Direito, senão que este trata apenas de esconder a verdade de como o Poder é exercido, e para isso o Direito utiliza-se de uma linguagem hermética e intencionalmente abstrusa.

Agora, quando o leitor estiver com dificuldade em compreender o sentido de uma norma legal saberá que por trás daquela norma está algum segredo do Poder, e estará no bom caminho  se começar a sua intepretação  perguntando, como os detetives fazem nas boas histórias policiais, a quem beneficia a norma legal. Pode começar a fazer isso com a norma constitucional que fixava a taxa de juros a doze por cento ao ano, norma que, jamais regulada, jamais entrou em vigor, ou como outras normas que regulam o mercado financeiro.

 

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