Estamos nós, seus leitores de sempre, acostumados a ver (e a ler) OTTO LARA RESENDE como cronista, e dos melhores cronistas que já tivemos. Mas ele foi também um excelente repórter, cujas entrevistas tinham sempre um  peculiar sabor com que OTTO, como bom mineiro, sabia temperar suas entrevistas e textos.

Há uma entrevista, melhor dizer entre aspas “a entrevista”, feita por OTTO com o general do Exército brasileiro, HENRIQUE LOTT, feita durante um momentoso episódio em que a legalidade parecia fugir ao controle, quando o jornalista CARLOS LACERDA, alguns políticos (e dentre eles, o presidente em exercício, CARLOS LUZ), além de poucos militares mas de grande patente, não queriam reconhecer JUSCELINO KUBITSCHEK como presidente eleito, pretextando que ele não havia obtido maioria absoluta nas eleições.

E lá foi OTTO, então redator-chefe da famosa revista Manchete, entrevistar, em 11 de novembro de 1955, o general LOTT, dele colhendo uma história que infelizmente poucos brasileiros conhecem, sobretudo os mais novos.

A longa e detalhada entrevista rendeu um maravilhoso texto de OTTO, que, além de reproduzir de memória o que lhe contava LOTT, entremeava a entrevista com observações como esta: “O general Lott raramente interrompe o fio de sua narrativa, que obedece, está visto, ao método cronológico. Preferimos não o interromper com perguntas. A maneira como está concedendo a entrevista, num tom de sincero depoimento, facilita-nos a missão de repórter”.

Além de ser um texto primoroso, à OTTO, a entrevista constitui uma verdadeira aula aos estudantes de jornalismo e mesmo a todos os jornalistas sobre como  deve ser feita uma entrevista  e como se deve produzir um texto em que o entrevistado, apenas ele, aparece, deixando o repórter à meia-luz, mas que nós, os leitores, sabemos que  ali ela está, fazendo as perguntas que nós faríamos.

A entrevista pode ser lida, em seu integral texto, no livro de CARLOS CHAGAS, “O Brasil sem Retoques  1808 -1964”, do qual já falamos aqui.

(Importante observar que a leitura dessa entrevista  brinda-nos  não apenas com o genial texto escrito por OTTO. O leitor, com efeito,  saberá que a discussão acerca da legitimidade das eleições não é tema novo no Brasil.)

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