Suponho que esteja ainda por ser feito um estudo, em forma de ensaio talvez, acerca da influência de PROUST na poética de CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, pois que afinal os dois operavam sobre um mesmo nuclear tema,  que forma a estrutura de em “A Busca do Tempo Perdido”, e ao qual a engenhosidade do poeta de Itabira dedicou muito de sua produção: o Tempo e as transformações que ele inevitavelmente provoca, o que diz diretamente com a Memória.

Consideremos, pois, o que PROUST escreveu sobre a morte  em “A Fugitiva”, quando lidou com a ausência definitiva de ALBERTINA, e tracemos um paralelo com o que DRUMMOND escreveu em seu poema “Ausência”, que está em seu livro “Corpo”, e notaremos aí uma relação que é bastante próxima entre um e outro desses dois geniais escritores:

 

“Por muito tempo achei que a ausência é falta

E lastimava, ignorante a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres, 

porque a ausência, essa ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim”.

 

E em PROUST:

Quando nossa amante está viva, grande parte dos pensamentos que constituem o que chamamos de nosso amor, nos vem durante as horas que ela não passa a nosso lado. Assim, tomamos o hábito de erigir em objeto de nossas divagações, um ser ausente, e que, mesmo que só o seja por algumas horas, durante essas horas não é senão uma lembrança. Por isso, a morte não muda grande coisa”. 

 


O tema está a merecer um estudo,  que apenas um especialista em DRUMMOND do nível de um AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA, possa realizar.

 

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here