O genial EÇA DE QUEIROZ nunca esteve no Brasil, mas tinha com este país uma relação especial, pois além da admiração a MACHADO DE ASSIS e da relação com outros escritores, EÇA era aqui venerado quiçá mais até do que pelos portugueses. Suas crônicas eram muitas vezes publicadas antes nos jornais brasileiros que nos portugueses. Havia um verdadeiro culto a EÇA, demonstrado pela forma da escrita de muitos autores, que tudo faziam para a tornarem assemelhada à do autor de “O Primo Basílio”.
E é exatamente nessa obra que surge um das mais famosos personagens de EÇA: o Conselheiro Acácio, que, vivesse no Brasil em tempos modernos, encontraria aqui seus êmulos, tantas são as frases diárias que lemos e ouvimos, proferidas por nossos personagens (estes de carne e osso) que, ao bom estilo do conselheiro Acácio, falam e falam e falam trivialidades, mas o fazem com grande pompa, com que buscam esconder a mediocridade de suas ideias – se de ideias podemos falar.
Aliás, nos últimos dias tivemos aqui a prova de como o estilo do Conselheiro Acácio está cada vez mais vivo entre nós, tantas foram as frases ouvidas e lidas acerca da democracia e de nossa vocação para ela, de nossa fé nos valores democráticos e dos princípios republicas, frases que facilmente poderíamos atribuir ao conselheiro Acácio, não soubéssemos que são dos nossos “Acácios”.
A democracia, dizem os nossos “Acácios”, existe para garantir a todos os brasileiros a possibilidade de escolherem seus representantes. A soberania, dizem eles, é um valor estruturante da democracia. O direito de voto é fundamental para o exercício da vontade soberana do ovo na escolha, livre e consciente, de seus representantes. A democracia é o único caminho, embora não seja um caminho fácil ou previsível.
E para não deixarmos nada a dever ao Conselheiro Acácio, temos uma pérola: a democracia é uma construção coletiva de todos. Nem o verdadeiro Conselheiro Acácio talvez chegasse a esse extremo …
Poderemos pensar que seria o caso de levarmos ao conhecimento do consagrado ALFREDO CAMPOS MATOS, autor do indispensável “Dicionário de Eça de Queiroz” , a preciosa informação acerca de como se mantém ainda hoje a acentuada influência de EÇA entre nós, refletida no grande número de nossos “Conselheiros Acácios”, motivo quiçá para que um verbete seja destinado ao fato.