MARX certamente levaria bastante a sério em suas pesquisas sobre como opera o regime capitalista o interessante episódio brasileiro que envolve a significativa presença de importantes figuras de nosso mundo econômico dentre aqueles que, com inolvidável zelo, cuidaram assinar o manifesto em favor da Democracia, e de alardear o que fizeram. Se o peso das cifras econômicas contribuir para salvarmos a nossa Democracia, não há dúvida que a teremos salvo de qualquer golpe de Estado, agora e em qualquer tempo vindouro.
Mas como eu estava dizendo, MARX, estivesse agora a braços com sua percuciente análise sobre o regime capitalista, e tendo entrevisto que essa análise, para ser completa e consistente, não poderia começar pelo exame das relações econômicas, e sim pelo que deve abarcar fenômenos sociais mais amplos, com destaque para o mundo político, teria identificado no episódio brasileiro em questão um material que mostraria a ele, MARX, como ele estava certo em seu raciocínio e método. Antes de pensarmos sobre as relações econômicas, devemos dar um passo atrás e ver como atuam as pessoas que, do mundo econômico, operam também no mundo político.
O manifesto firmado por tanta gente importante do mundo econômico, a elite que forma esse mundo, comprova que existem e que operam a compasso uma com a outra as estruturas econômica e política. E como há muitos juristas que firmaram o mesmo manifesto em favor de nossa Democracia, constatamos que a superestrutura do Direito serve para tudo, como, aliás MARX, sempre ele, já havia percebido, e talvez muito antes de estudar com profundidade a Economia, quando estava a cursar (e a odiar) o Direito.
O mestre, OCTAVIO IANNI, em seu livro dedicado a “Marx” e que organizou, observa: “Desde a crítica da dialética hegeliana à análise da dominação inglesa na Índia, todos os trabalhos de Marx são, fundamentalmente, de interpretação de como o modo capitalista de produção mercantiliza as relações, as pessoas, as coisas, em âmbito nacional e mundial, ao mesmo que desenvolve suas contradições”.
Pois que o capitalismo sempre encontra um motivo, uma razão para mercantilizar as relações sociais, e o faz dominando o cenário político e com apoio na superestrutura do Direito, buscando encontrar na sociedade antagonismos, ainda que os tenha que criar ou fabular.
Para concluir, e deixar o leitor a pensar, voltemos a IANNI que, no mesmo texto, perscrutando como o pensamento de MARX se desenvolve, registra: “(…) a sua análise apanha sempre as estruturas de apropriação econômica e dominação política, em que tendem a cristalizar-se aquelas relações e os antagonismos que com elas se engendram”.