Interessante o artigo escrito pelo sociólogo, JOSÉ DE SOUZA MARTINS, publicado no jornal “Valor Econômico”, edição de 27 de maio, em que o conhecido professor da USP, tratando do ensino doméstico (“homeschooling”), afirma que os pais podem querer inventar a educação que queiram, a seu talante, dar a seus filhos, mas não poderão “reinventar a sociedade na qual seus filhos terão que viver”, porque “É a escola convencional que, além de educar, pode socializar, na convivência cotidiana com os diferentes, para os desafios cotidianos das mudanças da realidade social”.
É exatamente a questão que envolve a realidade social aquela em que radica o principal aspecto que move aqueles que defendem a prática do “homeschooling”, porque eles perceberam que a escola é um dos principais aparelhos ideológicos do Estado, senão que o mais importante dentre eles, e assim, se conseguem fazer com seus filhos não se submetam a esse aparelho nos moldes em que ele existe hoje (pluralista e tolerante), poderão implantar em seus filhos uma outra ideologia, a seu gosto e finalidade.
Como observa LOUIS ALTHUSSER:
“(…) há um Aparelho Ideológico de Estado que desempenha incontestavelmente o papel dominante, embora nem sempre se preste muito atenção à sua música: ela é de tal maneira silenciosa! Trata-se da Escola.
“Desde a pré-primária, a Escola toma a seu cargo todas as crianças de todas as classes sociais, e a partir da Pré-Primária, inculca-lhes durante anos, os anos em que a criança está mais ‘vulnerável’ entalada entre o aparelho de Estado-familiar e o aparelho de Estado-Escola, ‘saberes práticos’ (des ‘savoir faire’) envolvidos na ideologia dominante (…)”.
Aí está, nua e crua, a principal razão que está por trás do projeto que cria no Brasil o ensino doméstico: a implantação de uma ideologia.