A Academia Brasileira de Letras – ABL fundada em 1897, ao tempo de MACHADO DE ASSIS, encontrou em AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE seu maior presidente: aquele que buscou lhe dar uma sede condizente com a sua importância, além de modernizá-la administrativamente, não sendo dos menores tributos que se deve a AUSTREGÉSILO o de ter resistido à mudança da ABL para Brasília, o que a história revelou como uma decisão acertadíssima. Mas se impõe agora um outro tipo de modernização.
HUMBERTO DE CAMPOS, outro imortal, havia se debruçado, com infinita paciência, sobre a vida da ABL, e pôde identificar momentos em que a “Casa de Machado” estava composta em sua grande maioria por literatos de um respeitável nível, como também encontrou momentos em que a queda na qualidade da produção literária dos imortais colocava em dúvida se o desejo de Machado andando o tempo poderia ser alcançado.
Devemos ao escritor maranhense JOSUÉ MONTELLO o conhecimento da história cotidiana da academia, narrada com base na convivência que ele passou a ter com alguns imortais, tão logo chegou ao Rio de Janeiro, em especial com Viriato Corrêa, que, aliás, foi o principal responsável por MONTELLO ter conseguido se tornar o imortal mais novo. MONTELLO, em seus “Diários”, conta-nos dos bastidores de várias eleições, revelando detalhes dos interesses nada literários que, em muitas dessas eleições, determinaram a eleição de um imortal que, a rigor, mantinha uma distância acentuadíssima da literatura. São esses interesses (muitas vezes velados interesses) que explicam que escritores como LIMA BARRETO e ÉRICO VERÍSSIMO não terem sido eleitos para a ABL, enquanto ATAULFO DE PAIVA, um ministro do STF que não sabia de Direito, tanto quanto não sabia de literatura, pôde tornar-se um imortal.
Mas a cambiante realidade traz agora à ABL uma inaudita dificuldade. Paradoxalmente, conquanto a importância da ABL tenha decrescido na sociedade brasileira, não houve, na longa história da ABL, uma pressão tão grande pela eleição de um imortal, como está a suceder com a eleição que ocorrerá na próxima semana para a cadeira de número 12. Disputam essa cadeira um neurocirurgião que conquistou fama internacional na área da Medicina (mas uma fama que não se estende à literatura), e um escritor de origem indígena e que tem produzido obras literárias cuja qualidade tem sido reconhecida. Importantes nomes do meio literário estão a fazer pressão para que esse escritor torne-se o novo imortal da ABL. Será este o momento em que será necessário dar um passo a mais em face da busca da modernidade. Mas uma modernidade que não pode mais se limitar à esfera administrativa.