MAURICE BLANCHOT, crítico francês, escreveu em “A Conversa Infinita” sobre o cotidiano, afirmando que se tratava do objeto mais difícil a descobrir: “Ele [referindo-se ao cotidiano] pertence à insignificância, e o insignificante é sem verdade, sem realidade, sem segredo, mas é talvez também o lugar de toda significação possível”. 

Há, pois, um signo escondido por detrás da realidade do cotidiano que muitas vezes nos escapa, seja porque não prestamos atenção ao que nos é habitual, seja porque há uma estratégia que objetiva impedir que identifiquemos e decifremos o signo.

Note o leitor como os políticos e a imprensa brasileira em geral estão a tratar como se fosse algo do cotidiano, do corriqueiro, o fato de o ministro da economia e o presidente do Banco Central possuírem fortunas depositadas em “offshore” no exterior, como se isso fosse um fato tão banal e corriqueiro que sequer deveríamos prestar atenção a ele, ou mesmo que pudesse ser divulgado. É o uso de uma linguagem da insignificância de que fala BLANCHOT, empregada como estratégia para que não percebamos o signo que está presente nessa mesma realidade: a de que dois agentes públicos possuem fortunas depositadas em paraísos fiscais, como se isso fosse um episódio do nosso cotidiano.

Mas, como ensina BLANCHOT, esse episódio que nos querem impor como do cotidiano é precisamente  “o lugar de toda significação possível”. Basta que o analisemos com atenção, e o signo está ali presente, que é o fato de algumas autoridades públicas brasileiras não se sentirem obrigadas a prestar contas ao povo de seus negócios particulares, que muitas vezes não são tão particulares assim …

 

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