Durante a sua carreira, ROLAND BARTHES interessou-me por muitos signos, estudando a linguagem que lhes é própria. Assim fez, por exemplo, com a Fotografia.
Outro foco de seu interesse na área da Semiologia e do Estruturalismo foi a linguagem da Política, mas logo se desinteressou pelo tema porque a sua ética assim o impôs, sobretudo depois de perceber como a má-fé é um componente habitual na linguagem política, e mais, como a Política opera sempre em um sistema fechado, como observa LEYLA PERRONE-MOISÉS no prefácio que escreveu para o livro “O Rumor da Língua”, de BARTHES, publicado no Brasil pela editora Brasiliense:
“Nutrido no marxismo e na psicanálise, Barthes acabou desconfiando de ambos, na medida em que os via como discursos totalitários, sistemas fechados que explicam tudo e fecham a boca de qualquer opositor com armas imbatíveis, previstas pelo próprio sistema”.
Vivemos uma realidade que é exatamente assim, mas com um aspecto que a diferencia acentuadamente daquela objeto da análise de BARTHES. Com efeito, o sistema fechado, que é aquele em que a linguagem da Política opera, não é mais uma exclusividade de governos totalitários, porque importantes segmentos da sociedade civil também passaram a operar dentro desse mesmo sistema, impondo signos e conceitos e fixando-lhes seu conteúdo, não permitindo qualquer forma de oposição. Tornou-se, pois, lugar comum dizer-se que uma determinada informação é “fake news”, como estratégia para impedir qualquer discussão a respeito. Assim, o conceito de “fake news” passou a constituir uma eficiente ferramenta dentro desse sistema fechado.
BARTHES faleceu em 1980. Viveu, pois, noutro mundo, bem diferente do nosso. Mas o que estabeleceu quanto à estrutura da Linguagem da Política é de uma atualidade impressionante.