Algo receosos de que o resultado das eleições presidenciais de 2022 não seja de seu agrado, ou seja, que a “terceira via” não dê em lugar nenhum, alguns políticos e empresários têm sugerido que o Brasil pense no semipresidencialismo, com a implantação de um modelo em que o primeiro-ministro (escolhido pelo Congresso Nacional) efetivamente governaria, enquanto o presidente (aquele eleito pelo povo) faria o papel de uma figura meramente simbólica.

Essa estrambótica ideia nos faz lembrar de um conto “Um Ambicioso”,  de MACHADO DE ASSIS, publicado em 1877. O conto, aliás, demonstra o equívoco daqueles que afirmam que MACHADO era e sempre foi um indiferente às coisas da política. (Para o leitor que quer conhecer o lado político de MACHADO, sugiro a leitura de “Machado de Assis e a Política”, de BRITO BROCA).

Ao tempo das eleições indiretas – escreve MACHADO -, os políticos não aspiravam a ser deputado, nem ministro. Aspiravam a ser eleitores. Sim, eleitores, porque os votantes elegiam os eleitores, e estes é que escolhiam quem de fato governaria. Tal era a paixão de José Cândido, o personagem desse conto machadiano, que queria ser eleitor, sobretudo depois que uma feiticeira lhe vaticinara: “Tu serás eleitor, José Cândido”. O conto termina com a derrota de José Candido, que, pouco a pouco, vai esquecendo o fracasso. A moral do conto, nas palavras de MACHADO: “Até a ambição é caduca”.

 

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