Alguns países têm buscado estabelecer uma forma de controle das “fake news”. De fato, é necessário que algum controle estatal exista. Mas se antes das redes sociais não tínhamos tantas “fake news” em número, tínhamos notícias falsas com um potencial muito mais danoso ao interesse público. Refiro-me ao controle que os grandes grupos de comunicação social exerciam, escolhendo as notícias que podiam ou que não podiam ser divulgadas, além de possuírem um controle absoluto sobre o conteúdo do que a população podia ou não devia saber.
Alguns se lembrarão do episódio envolvendo uma grande emissora de televisão do Brasil que, controlando o conteúdo das notícias, dedicou 90% do tempo de seu telejornal mais famoso e com maior audiência a contar detalhes do nascimento da filha de uma então famosa apresentadora, quando, ao mesmo tempo, em Brasília, suspeitava-se que a aprovação de uma emenda constitucional que previa a reeleição do presidente da república estava a ser manipulada por meio da “compra” de votos. Qual fato mais importante? Para aquela emissora de televisão, o nascimento da filha da apresentadora.
Se estendermos o conceito de “fake news” para abranger qualquer manipulação intencional no conteúdo de uma notícia, por variadas estratégias, ficaremos na dúvida se hoje as “fake news” são mais perigosas do que aquelas que existiam quando o controle da notícia estava em mãos de poucos.