Chega a constituir um escárnio à inteligência e a dignidade do povo brasileiro o discurso de alguns políticos, quando afirmam que não se deve escolher a vacina, senão que se deve tomar aquela que estiver disponível, seja ela qual for, como se não fosse um direito fundamental de qualquer brasileiro, previsto no artigo 196 de nossa Constituição de 1988, o de contar com o melhor tratamento médico possível, o que abarca, por óbvio, a melhor vacina, como se o povo devesse reconhecer como uma benesse do Estado o lhe propiciar uma vacina, ainda que menos eficaz.

Como se o povo devesse não apenas se contentar com pouco, mas principalmente não desejar muito, e como se a virtude estivesse exatamente aí, no desprendimento e no desapego.

Como se a saúde em nosso país fosse uma só e mesma coisa para todos, e como não houvessem hospitais de primeiro mundo, convivendo com hospitais públicos sucateados, e que por isso não poderia o povo querer o melhor tratamento, o melhor hospital, e a melhor vacina.

Cabe enfatizar a redação do artigo 196 da Constituição e o verbo que ali aparece: o verbo dever, quando a norma constitucional refere-se ao Estado: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

Defender que se propicie a todos os brasileiros e brasileiras a melhor vacina para a “Covid-19” não representa nada mais que exigir o cumprimento da referida norma constitucional.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here