Utilizamo-nos das urnas eletrônicas desde 1996 e de lá para cá conseguimos implementar e consolidar um sistema eleitoral confiável e seguro, basicamente por causa da segurança das urnas eletrônicas. Não podemos admitir, portanto, um desarrazoado retorno às cédulas em papel, porque isso constituiria uma acentuada quebra em nosso sistema eleitoral, desorganizando-o. Mas a quem interessa essa desorganização? Consideremos o que ocorre agora no Peru, que, aliás, adota as urnas eletrônicas, e consideremos no mesmo contexto o que ocorreu um pouco antes nos Estados Unidos com a eleição de Biden. Esses exemplos nos darão a resposta.
No Peru, o candidato que aparece à frente no resultado das eleições presidenciais, Pedro Castillo, é de esquerda, e enfrenta no pleito Keiko Fujimori, que é de direita, filha do ex-presidente cassado, Fujimori. Keiko, que está atrás nos resultados, alega fraude nas eleições, questionado as urnas eletrônicas.
Trump, sabendo que perderia de Biden, tratou de alegar fraude no sistema eleitoral. Mas como se trata de um país cuja democracia está há séculos consolidada, a aventura de Trump não passou de uma frágil e inócua tentativa de desacreditar o resultado das eleições, realizadas com a cédula de papel.
Mas se no Peru não tivesse sido adotada a urna eletrônica, aquilo que Trump tentou nos Estados Unidos teria grande chance de vingar no país da América Latina, porque o Peru não possui um democracia com os predicados que apenas uma larga tradição como a da democracia norte-americana permite sejam conquistados. Assim, a demora na apuração, o que é característico no sistema de cédulas de papel, facilita as coisas para quem alega fraude, sobretudo em países cuja democracia é ainda delicada.
Portanto, querer trocar um sistema seguro e confiável, como é o sistema das nossas urnas eletrônicas, testadas desde 1996, pela volta da cédula de papel, é criar o ambiente mais adequado possível para instalar a confusão e com ela gerar a insegurança jurídica. Perfeito para os candidatos que perdem.