Se no ano passado a Argentina ocupava um lugar de destaque como um país que havia sabido lidar bem com a pandemia, neste momento a situação modificou-se consideravelmente, a ponto de a Argentina hoje rivalizar com o Brasil entre os países que estão à beira de uma catástrofe, como revela o índice “Bloomberg”.
Um poema de BORGES acerca de sua estimada Buenos Aires, por isso, ganha hoje contornos de realidade, como se a poesia pudesse antecipar o momento que os portenhos infelizmente vivem, e que lhe exigem um amor cada vez mais incondicional àquela maravilhosa cidade. Confiram o poema, que tem o nome “Buenos Aires”:
“E a cidade, agora, é como um plano
De minhas humilhações e fracassos;
Desde essa porta vi os ocasos
E ante esse mármore tenho aguardado em vão.
Aqui o incerto ontem e o distinto hoje
Me deparam os comuns casos
De toda sorte humana; aqui meus passos
Tecem seu incalculável labirinto.
Aqui a tarde cinzenta espera
O fruto que lhe deve a manhã;
Aqui minha sombra não é menos vã
Sombra final se perderá, ligeira.
Não nos une o amor senão o espanto;
Será por isso que a quero tanto”.