Data de 1605 a primeira publicação do famoso livro de CERVANTES, “Dom Quixote”, e desde então a fabulosa obra corre o mundo, tornando-se um dos livros mais traduzidos. Em 2002, aliás, foi escolhido, com justiça, a melhor obra de ficção de todos os tempos.
O que poucos sabem, contudo, é que, em 1922, “Dom Quixote” ganhou a sua primeira versão em mandarim. E quando se aproxima um século dessa edição, na Espanha publica-se agora a versão em espanhol do livro tal como fora publicado na China.
A razão do interesse nessa publicação reside no fato de haver importantes diferenças na tradução que, em 1922, fora feita ao mandarim, embora os especialistas reconheçam que está ali, na primeira edição chinesa, muito de DOM QUIXOTE.
“Na Mancha, havia um lugar, um lugar cujo nome não é preciso que se mencione, situado entre Aragon e Castilla. Naquele lugar, vivia um homem apegado a antigas tradições, que gostava de usar lança e adarga, um cavalo feroz e um cachorro caçador”. Este é o início da edição chinesa de 1922. Se formos ao “Dom Quixote” original perceberemos, como afirma MACARENA VIDAL no jornal espanhol “El País”, edição de hoje, que esse começo não é exatamente o “Dom Quixote” que conhecemos, mas tampouco deixa o de ser.
As diferenças entre o texto original e a versão em mandarim têm uma curiosa justificativa: o tradutor, LIN SHU, não falava o espanhol, nem qualquer outra língua estrangeira, mas se empenhava em traduzir obras conhecidas da literatura ocidental, com o que objetiva renovar a literatura chinesa e colocar à disposição do maior número de leitores chineses as grandes obras da literatura ocidental. Mas como não falasse o espanhol, SHU recorreu a um amigo que dominava o inglês, e assim a tradução fora feita de uma versão em inglês do “Dom Quixote” para o mandarim. Terá assim nascido um novo e diferente “Dom Quixote” oriental, que os espanhóis poderão, depois de quase cem anos, conhecer. As façanhas do engenhoso fidalgo, como se vê, não se esgotam naquelas contadas na edição original de CERVANTES.
