O INTERESSE PELO PODER JUDICIÁRIO

Ao tempo de MACHADO DE ASSIS, ocorreu fato que ao mestre despertara a atenção. Corria o ano de 1899, e certa feita, MACHADO constatara como era grande o interesse da população da Capital da República, localizada então na cidade do rio de Janeiro, pelo que ocorria, ou não ocorria na Câmara Federal. Em uma de suas crônicas, MACHADO descreve como o recinto havia lotado, a ponto de alguns espectadores sentarem-se nos lugares vagos destinados aos parlamentares, tudo para dizer quão expressivo era então o interesse do povo pelo Poder Legislativo, sobretudo, como ironiza MACHADO, quando se tinha “a certeza de que se não ia ouvir falar de impostos”.

Andando o tempo, o mesmo fenômeno está hoje presente. Apenas que seu foco é outro. Agora o interesse do povo é pelo Poder Judiciário.

Os telejornais, os jornais, as redes sociais, diariamente e a todo instante noticiam, comentam, criticam decisões de nossos tribunais, em especial do STF, e termos jurídicos como “suspeição”, “imparcialidade”, “parcialidade” passam a integrar o vocabulário do homem comum, conforme  lhe explicam os jornalistas, como sucede no presente momento, pois que estamos todos às voltas com rumoroso julgamento sobre a condução de um processo criminal.

É como se o povo estivesse a participar desses julgamentos; e a ser verdade que a opinião pública tem peso, como de há muito sustentam os cientistas políticos, está mesmo a participar.

Tudo tem seu tempo, e os tempos mudam, como registrou MACHADO em carta a MAGALHÃES DE AZEREDO: “O nosso Rio mudou muito, até de costumes. Aquele cajuí que nós tomávamos numa casa da Rua do Ouvidor agora provavelmente toma-se na rua (Avenida), em plena calçada (…)”. Mudaram os tempos, pois que hoje, em lugar da Câmara Federal, do futebol, das fofocas envolvendo artistas da nossa televisão, o povo acompanha de perto os julgamentos do Poder Judiciário, torcendo e fazendo suas apostas. Aliás, não tardará em que termos um lugar em que o homem comum poderá fazer suas apostas nos resultados desses julgamentos, como em uma loteria.

O fato é que esse interesse pelo Poder Judiciário está hoje presente, é saudável e auspicioso para a nossa Democracia. E ao que parece, esse interesse não tende a desaparecer, pelo menos não a curto espaço de tempo. Feliz a nossa Democracia em ter a seu lado esse interesse. Cultivemo-no.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here