Os valores tendem a colidir e efetivamente colidem a todo o tempo, porque na base de todos eles está a liberdade. Assim, a pandemia nos trouxe, particularmente no Brasil e em todos os países pobres como ele, uma nova espécie de conflito, e que envolve a saúde versus a economia.
Governos de feição populista, como o nosso atual, insistem na tese de que a economia deve prevalecer e que a saúde deve ceder passo.
O historiador britânico, MICHAEL BURLEIGH, em entrevista ao jornal “Público”, de Portugal, edição de hoje, fala sobre a razão pela qual governos populistas têm todos a mesma tese de que a economia deve voltar a funcionar, desprezando o número de mortes pela “Covid”:
“Isso tem a ver com o fato de se assumir que o combate ao vírus só se pode fazer a partir de um de dois polos magnéticos: imposição de quarentenas versus liberdade econômica. Mas estas duas soluções estão claramente interligadas. A não ser que se consiga controlar o vírus, não é possível recuperar a economia. [Os populistas] recusam essa lógica. Querem é abrir a economia e dizer: ‘São apenas alguns idosos que estão a morrer”.
E enfaticamente:
“(…) o que os lideres populistas mais desejam é que haja uma enorme recessão pós-pandêmica e que a possam explorar. Infelizmente para eles, estamos a ver mesmos os Governos mais conservadores a atirarem dinheiro às pessoas”.
E para fechar, BURLEIGH afirma que o “Estado Social”, caracterizado na ideia de que os serviços públicos devem existir e funcionar com qualidade, recebeu um “enorme balão de oxigênio durante a pandemia”.
Cá no Brasil, o “SUS”, o nosso sistema de saúde pública, ganhou uma imunidade que, se não é eterna, durará muitos e muitos anos. Não há político que se aventure a propor a “privatização” da saúde, como víamos em tempos recentes em nosso Congresso Nacional.