Utilizando-se como mote a admoestação bíblica de que não se deve julgar, para não ser julgado, MACHADO DE ASSIS escreveu um conto que merece especial atenção dos operadores do processo penal.

Trata-se do conto “Suje-se Gordo!”. É a história de um homem que, embora contrário ao júri, é convocado e participa de alguns julgamentos, nos quais vota, sempre que possível, pela absolvição, sobretudo por lhe repugnar a ideia de que possa condenar alguém. E pela absolvição votou em um processo que envolvia  a acusação de um crime furto de uma pequena quantia, conquanto a maioria dos jurados entendesse de modo diverso, vindo o réu  a ser condenado. Recorda-se ele que um dos jurados, de sobrenome “Lopes”,  liderara o voto da maioria depois de ter dito a frase,  que dá título ao conto: “Suje-se gordo”, empregada por aquele jurado com o sentido de dizer que, como se tratava de um reles ladrão, que havia furtado pouco, era imperioso condená-lo.

Anos depois “Lopes” torna-se réu de um desvio de dinheiro. E coincidentemente vem a servir no júri aquele mesmo  homem que, seguindo o preceito bíblico, temia julgar, para que não fosse julgado. Lopes era acusado de desviar uma soma de dinheiro considerável. Aquela  frase, “Suje-se gordo”, vem à cabeça do homem, que, considerando as provas apresentadas e em especial a grande soma desviada, vota pela condenação. O réu, contudo, é absolvido pela maioria dos jurados.

Rematando o conto, MACHADO escreve: “O melhor de tudo é não julgar ninguém para não vir a ser julgado. Suje-se gordo! suje-se magro! suje-se como lhe parecer! o mais seguro é não julgar ninguém …”. 

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