Partiu de MACHADO DE ASSIS a primeira alusão ao fato de haver certa coincidência de enredo entre o romance de EÇA DE QUEIROZ, “O Crime do Padre Amaro”, e o de ÉMILE ZOLA, “O Crime do Padre Mouret”.

EÇA imediatamente fez a defesa de sua obra, destacando que ela surgira antes do romance do francês, de forma que bastaria esse aspecto para eximi-lo de qualquer plágio.

MACHADO fora levado ao equívoco por ter considerado apenas a semelhança entre os títulos.

O padre AMARO, magistralmente descrito por EÇA, é um padre sem vocação, que acaba no sacerdócio por falta de outras possibilidades, e não vê na Igreja senão aquilo que lhe possa proporcionar luxo e luxúria. “Amelinha” é a principal vítima de sua ambição e perversão, e o final da obra, que ocorre em um bar em Lisboa, onde se encontram AMARO e o cônego Dias, outro “padre-mulherengo”, é a caracterização desse tipo de padre, ainda hoje muito encontradiço.

Já o padre MOURET é o oposto disso. Trata-se, com efeito, de um sacerdote cuja vocação e fé são condizentes com o ofício que exerce, um modelo de padre como se pode constatar, mas que é, em determinada circunstância, tentado por ALBINA. Mas a vocação vence, como teria que vencer em um caráter como aquele.

Enquanto o PADRE AMARO é ainda hoje um personagem conhecido dos leitores, especialmente os do Brasil, o PADRE MOURET entrou no esquecimento. Curioso fato esse, se compararmos o perfil de cada um.

Talvez é chegada a hora de rendermos homenagem ao bom padre, como o descreveu ZOLA, que, aliás, em suas últimas obras, aprimorou essa descrição, ao falar de um padre que, chegado a Roma, ali encontrou seu professor de seminário que o convidara a um passeio nos arrabaldes da cidade, onde teria que cumprir uma missão. O professor pede a seu pupilo segredo acerca do local que seria visitado, o que causa certa preocupação no pupilo, mas desde logo afastada por saber  do íntegro caráter de seu mestre. O padre mais velho, nesse passeio, visita um casebre, onde encontra um idoso muito adoentado, e o padre lhe dá algum dinheiro para a compra de remédios e comida. Na volta desse passeio, o pupilo pergunta a seu mestre o motivo de se manter em segredo uma ação tão bela como aquela: o padre mais velho responde a seu pupilo, advertindo-o de que a Igreja não gostava de padres que ajudavam os pobres …

 

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