ALCIR PÉCORA, professor titular de teoria literária, escreveu um interessante ensaio, resultado de uma atenta leitura que recentemente levou a cabo do livro “Escritor por Escritor: Machado de Assis segundo seus Pares”, uma antologia organizada por Ieda Lebensztayn e Hélio de Seixa Guimarães, publicada pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, sob os auspícios do CNPq. O ensaio foi publicado na edição de hoje de “A Folha de São Paulo”.
Com uma franqueza e ousadia que não são comuns em nosso meio acadêmico, escreveu ALCIR, analisando os textos que compõem a antologia sobre MACHADO:
” (…) espanta o quanto a grandeza ímpar de Machado é percebida, exaltada, mas também, em não pequena proporção, é relativizada ou até radicalmente subtraída. E isso num meio literário acanhado em que a média dos escritores está muito abaixo dele, e no qual mesmo os melhores não podem se ombrear com ele.
“Isso sugere, talvez, que boa parte das críticas mais acerbas tenham como origem a primitiva e humaníssima inveja. Mas não é tanto isso o que impressiona, e sim a forma que elas tomam, com recorrência de notas pessoais, além de uma série de debates arrevesados, nos quais, não raro, nem sutilmente, aflora a face vil do racismo”.
Desde SILVIO ROMERO, as críticas a MACHADO DE ASSIS não cessaram, e como se vê, não cessam ainda hoje e, embora renovem-se os críticos, o conteúdo do que se questiona na obra machadiana é rigorosamente o mesmo. Questiona-se, com efeito, a qualidade de seus romances, porque teriam apenas uma cor local (a do Rio de Janeiro de então), e porque seriam algo superficiais, mesmo aqueles produzidos já na segunda fase de sua carreira literária, iniciada com as “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, ou porque MACHADO não demonstrara em tempo algum um interesse pela vida concreta do país e pela política, olvidando os detratores que MACHADO fora afastado das suas funções de cronista no jornal “Diário do Rio de Janeiro” exatamente porque escrevera sobre política em um tom não condizente com a visão daquele jornal.
O ensaio de ALCIR encontra, pois, o tom perfeito para analisar, esquadrinhar e refutar uma grande parte das injustas críticas a MACHADO, com destaque para aquelas emanadas dos modernistas.
Às biografias de MACHADO, em especial aquelas escritas por JEAN-MICHEL MASSA e RAYMUNDO MAGALHAES JUNIOR, e ao estudo feito por AUGUSTO MEYER, soma-se agora o indispensável ensaio de ALCIR.