Tem-se tornado algo frequente que algum pesquisador  afirme ter encontrado um texto, atribuindo a sua autoria a MACHADO DE ASSIS. Temos um novo episódio desse gênero.

Com efeito, uma pesquisadora afirma que, debruçando-se sobre as publicações de uma antiga revista brasileira, “Espelho”, encontrou um texto, uma espécie de esboço biográfico, que seria de MACHADO DE ASSIS. Para a pesquisadora, já nos primeiros parágrafos desse texto é possível encontrar características que seriam tipicamente machadianas, como a narrativa em primeira pessoa e certos detalhes em que estariam presentes um predicado de MACHADO, a “pena da galhofa”.

Há, contudo, que ser ter grande cautela com o resultado dessas pesquisas, porque ao longo do tempo se demonstrou que muitos textos atribuídos à MACHADO não eram de sua lavra, como bem advertiu e comprovou JEAN-MICHEL MASSA em seu imortal livro, “A Juventude de Machado de Assis”, hoje obra de alfarrábio.

A propósito da revista “Espelho”, na qual efetivamente MACHADO colaborou, é de se observar que essa revista teve uma vida efêmera, durou, pois, um trimestre de 1859, e teve apenas dezenove números, e em todos eles MACHADO publicou um texto, ora uma crítica teatral, ora poesia, ou então ensaios literários e críticos. MACHADO tinha ali uma posição de destaque, embora não tivesse ainda vinte anos de idade. Seu nome aparecia nas publicações da revista sempre com algum destaque.

Daí a cautela que se deve ter quando se afirma que o texto publicado na revista “Espelho”, não assinado por MACHADO DE ASSIS, seria  de sua autoria. Pesquisas mais apuradas e consistentes devem ser realizadas, antes que se possa confirmar que o texto é mesmo machadiano.

Quanto ao estilo do texto, há que se observar que MACHADO na época da revista “Espelho” não tinha ainda seu estilo formado, o que viria a acontecer propriamente após a sua passagem pelo jornal “Diário do Rio de Janeiro” e depois de escrever “Crisálidas”, seu primeiro livro de poesias, quando, amadurecido por problemas da vida, adquiriria o estilo que o consagrou, justificando que AUGUSTO MEYER o tenha chamado  “O Poeta do Eclesiaste”, porque já senhor de uma ironia transformada em estilo.

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