Em 2005, o Google anunciou a intenção de digitalizar as principais bibliotecas do mundo. Hoje, boa parte desse objetivo já foi conquistado e alguns resultados já se podem notar.

Como observa o editor italiano, ROBERTO CALASSO, no livro recém lançado no Brasil (“A Marca do Editor”, tradução por Pedro Fonseca, editora Ayiné), com a digitalização dos livros, criando-se uma biblioteca única, os livros perderam algo de sua essência: o de constituírem ilhas, isolados em sua individualidade, ainda quando colocados lado a lado em uma biblioteca.

A partir da digitalização dos livros, assinala CALASSO,  iniciou-se uma nova e importante etapa: a da relação entre os livros e suas palavras e linguagem. Já é possível a qualquer leitor, com efeito,  pesquisar que palavras BORGES usou e quais aquelas que são iguais às que KAFKA usara. A leitura passou a ser comunitária, dado que um leitor pode saber  das anotações que outros leitores fizeram antes dele.

O mesmo sucederá ao Direito positivo. As sentenças judiciais serão todas digitalizadas e, tanto quanto com sucede com os livros, será possível a qualquer operador do Direito analisar a forma como as sentenças são produzidas, que palavras mais comumente são utilizadas pelos juízes, como determinado instituto jurídico foi interpretado em uma infinita quantidade de sentenças. Ou seja, o juiz como autor das sentenças poderá ser esmiuçado como se estivesse em uma máquina de raio x.

As sentenças deixarão, portanto,  de ser “ilhas”, isoladas em sua individualidade, para poderem ser contextualizadas como se fossem uma só sentença, proferida por um juiz único.

Que efeitos a digitalização das sentenças produzirá no campo do Direito Positivo? Que mudanças ocorrerão no trabalho de juízes e de advogados? E o que dizer do estudo do Direito?

Se no caso dos livros, cuja digitalização iniciou-se em 2005 e avança consideravelmente, ainda não se tem uma resposta conclusiva a respeito das modificações  geradas nos autores e leitores, no caso das sentenças, como a digitalização é ainda incipiente, não se pode avançar com nenhuma resposta. Mas ela surgirá muito em breve …

 

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