“Linhas Tortas”: trata-se de uma obra póstuma de GRACIANO RAMOS, publicada em 1963. Vejam a nitidez do retrato do Brasil da época de Getúlio, feito por mão de mestre, por alguém que suportara no corpo o peso de uma ditadura (GRACIALIANO ficou preso entre 1936 e 1937):
“A constituição da república tem um buraco. É possível que tenha muitos, mas sou pouco exigente e satisfaço-me com referir-me a um só. Possuímos, segundo dizem os entendidos, três poderes – o executivo, que é o dono da casa, o legislativo e o judiciário, domésticos, moços de recados, gente assalariada para o patrão fazer figura e deitar empáfia diante das visitas. Resta ainda um quarto poder, coisa vaga, imponderável mas que é tacitamente considerado o sumário dos outros três. É aí que o carro topa. Há no Brasil um funcionário de atribuições indeterminadas, mas ilimitadas. Aí está o rombo na constituição, rombo a ser preenchido quando ela for revista, metendo-se nele a figura interessante do chefe político, que é a única força de verdade. O resto é lorota”.
É certo que esse retrato tem um data precisa, e naturalmente as coisas no Brasil modificaram-se desde 1936. Até mesmo a Constituição, que agora temos uma a que se deu o nome de “Constituição-Cidadã”. E não temos mais o poder moderador. Opa, não temos?