“Aos vinte anos, começando minha jornada por esta vida pública que Deus me deu, recebi uma porção de ideias feitas para o caminho. Se o leitor tem algum filho a sair, faça-lhe a mesma coisa . Encha uma pequena mala com ideias e frases feitas, se puder, abençoe o rapaz e deixe-o ir. Não conheço nada mais cômodo. Chega-se a uma hospedaria, abre-se a mala, tira-se uma daquelas coisas, e os olhos dos viajantes faíscam logo, porque eles as conhecem desde muito e creem nelas, às vezes mais do que a si mesmos. É um modo breve e econômico de fazer amizades. Foi o que meu aconteceu. Trazia comigo na mala e na algibeira uma porção dessas ideias definitivas, e vivi assim, até o dia em que, ou por irreverência do espírito, ou por não ter mais nada que fazer, peguei de um quebra-nozes e ver o que havia dentro delas. El algumas, quando não achei nada, achei um bicho feio e visguento”. (MACHADO DE ASSIS, Crônicas).
Algum leitor poderá reparar ter visto, em sentenças e acórdãos, muitas ideias e frases feitas, que, de tão repetidas, acabam por servir a tudo e para tudo (e ao final para nada). A partir de agora, quando com elas se deparar novamente, ao menos lembrar-se-á de MACHADO DE ASSIS.