É sabido o quão arredio era o poeta, CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, no trato pessoal. Que o pudesse dizer o jornalista já falecido, GENETON MORAES NETO, que conseguiu, por telefone, fazer uma das últimas entrevistas com DRUMMOND, materializadas em um precioso livro, “Dossiê Drummond”.
Mas vez por outra DRUMMOND deixava a timidez e a reserva de lado e falava de determinados assuntos, alguns pessoais, quase sempre por meio de cartas, trocadas muitas vezes com quem ele não conhecia pessoalmente. Assim aconteceu com ADALGISA CAMPOS DA SILVA, hoje tradutora. O jornal “O Globo”, edição de hoje, publica curiosas informações acerca da “amizade epistolar” entre DRUMMOND e ADALGISA.
Segundo a matéria jornalística, em maio de 1973, DRUMMOND escrevera, como de hábito, ao “Jornal do Brasil” uma crônica, mas naquela em especial cuidava de um assunto que então o incomodava: o recebimento de inúmeras correspondências em que o missivista, “escritores aprendizes”, encaminhavam a DRUMMOND textos para que ele lesse, corrigisse e louvasse. Ao cabo da crônica, o poeta de Itabira instava a esses missivistas que o deixassem em paz: “Quero a paz das estepes/a paz dos descampados/a paz do Pico de Itabira”.
Adalgisa, leitora do “Jornal do Brasil” e das crônicas de DRUMMOND, animou-se a contrariar o poeta, para lhe escrever, e em versos: “Desagravo ao desagrado do poeta/ A paz esteja convosco, Poeta!/ E comigo também”.
Iniciava-se assim uma correspondência entre DRUMMOND e ADALGISA, que perdurou até 1984, sem nunca terem se encontrado pessoalmente.
Em tempo: ADALGISA publicou, em uma edição artesanal, um livro com o conteúdo das correspondências trocadas com DRUMMOND, e dentre elas está aquela em que o poeta relaciona o livro a um bolo, ensinando aos aprendizes. Diz ele: “Livro é igual a bolo, tem que esperar esfriar para publicar”.