BENDIÇÃO
“(…)
Para o Céu, em que avista um trono refulgente,
O Poeta ergue, sereno, as suas mãos piedosas,
E os imensos clarões de sua alma de vidente
Ofuscam-lhe a visão das multidões furiosas:
– Bendito vós, meu Deus, que dais os sofrimentos
Como um filtro divino às nossas imundícias,
E também o melhor e mais puro alimento
Que aos fortes predispõe paras as santas delícias!
Eu sei que reservais um lugar para o Poeta
Nas bem-aventuradas filas das Legiões,
E sempre o convidais para a festa secreta
Dos Tronos, das Virtudes, das Dominações
Eu sei também que a dor é a nobreza suprema
Sempre vedada à terra e aos infernos adversos,
E que para tecer meu místico diadema
Fora mister impor os tempos e universos.
(…)”.
(tradução por Guilherme de Almeida, in Flores das ‘Flores do Mal’ de BAUDELAIRE).