Quando penso no recente episódio envolvendo o desembargador e sua “carteirada”, somado a tantos outros que bem revelam como pensa e como age a nossa elite (refiro-me aqui à elite econômica), menoscabando os pobres, praticando o racismo, tratando a coisa pública como se coisa sua fosse, lembro-me da expressão cunhada pelo grande GEORG LUKÁCS e que se encaixa como uma luva sobre a parte de nossa sociedade, aquela que, graças ao poder econômico, dirige o nosso destino. Refiro-me à expressão “Grande Hotel do Abismo”. Confira o leitor nas palavras do próprio LUKÁCS como ele bem descreve esse “hotel”:
“É um hotel provido de todo o conforto moderno, mas suspenso à beira de um abismo, do nada, do absurdo. O espetáculo cotidiano do abismo, situado entre a qualidade da cozinha e as distrações artísticas, só pode realçar o prazer que encontram os pensionistas neste conforto refinado”.
Com efeito, a elite econômica brasileira vive em um “grande hotel do abismo”, abastecido por tudo quanto pode conferir luxo e conforto a uma hospedagem dessa natureza, sem se dar conta, contudo, de que esse “hotel” foi construído sob um absurdo, que é a realidade brasileira vivenciada por milhões de brasileiros que, na linha da pobreza e abaixo dela, não têm acesso a um mínimo indispensável. Acontece que esse “hotel” está suspenso à beira de um abismo, e se seus hóspedes não acordarem a tempo para a realidade, cairá para o nada.