Em 1948, perseguido pelo governo de González Videla, escondido em casa de amigos, o grande poeta chileno PABLO NERUDA, indagado do motivo de se dedicar à política (pertencia ele ao Partido Comunista Chileno), em vez de consagrar seu tempo exclusivamente à poesia, o que desagradava a muitos de seus leitores, já então espalhados pelo mundo, ele respondeu:
“Parece-me inútil seguir aprofundando nas raízes da dor humana. Em meu trabalho literário cheguei a um ponto morto, a um estrato imóvel o pensamento universal, a uma coincidência totalmente estéril. Então, busquei o caminho mais reflexivo na luta contra a dor, cuja essência não é fundamentalmente metafísica, nem religiosa, senão social, acidental, produto da relação estabelecida entre os seres humanos. Este caminho e esta luta me pareceram o mais nobre. Tenho cada dia o sentimento profundo de cumprir um dever. Fui um escritor noturno que passou parte de sua existência andando pegado às paredes em uma noite vazia. Agora sou feliz. Devemos andar pelo meio da rua e ao encontro da vida”. (tradução nossa, in Neruda, El Príncipe de los Poetas, por Mario Amorós, p. 268, Ediciones B,S.A, 2015, Barcelona).